terça-feira, 26 de outubro de 2010

Today.

Imersa mais uma vez no universo das letras, fugindo de tarefas adiáveis que inventei pra passar o tempo. Pois, insistentemente algo grita. A vontade de escrever o indescritível, o impublicável (que publicarei) , aquilo que eu não revelo nem a mim mesma (mas aos poucos acabo revelando).

É triste que existam fatos assim. É triste ter vergonha de si própria, e às vezes parece que vou sangrar na tentativa de cavar poços profundos pra esconder a verdade. A cura de todo mal é se pensar não fosse pecado, sentir não fosse pecado. Omitir não fosse lei.

Será posso fica em paz com meus pensamentos? Hoje me peguei várias vezes fazendo um único lembrete mental: Não seja estúpida. Não seja estúpido você, lembrete. Deixe-me pensar, é a única forma palpável de alcançar o que desejo utópico.

Silencia-se pensamento podador. Que hoje eu quero pensar livremente. Hoje eu quero poder dizer a mim aquilo que em outra ocasião eu expulsaria. Ao menos uma vez quero fazer aqueles planos ridículos e não balançar a cabeça logo após, e não voltar à terra, jamais. Ao menos hoje.

Depois poderei andar a vontade por cidades onde a atmosfera cheira a correntes, onde o ar livre não é tão livre assim, onde olhares são capazes de penetrar mentes. Onde o lado de fora parece está cercado de quatro paredes de um calabouço. Poderei caminhar com o sorriso maroto de quem esta ganhando por ter provado da libertade, mesmo que ontem.

domingo, 17 de outubro de 2010

Maybe.



Lá estava, olhando a estrada à espera da volta dele. Mesmo isso não tendo a mínima chance de acontecer. Lá estava conferindo o celular e esperando a ligação de alguém que sequer tem o seu número, lembrando que outrora tivera e ligava, mas ela apenas ignorava. Aqui estou presenciando a agonia da moça que deixou muita coisa passar, mesmo dizendo que jamais o faria.

Na angustia de quem lembra de ter ouvido uma pessoa mais velha dizer: Não desejo essa dor a ninguém, nem ao meu pior inimigo. Quando, deparou-se frente a frente com o passado-zumbi que ela enterrou, aterrorizando-a no presente e a deixando-a impotente.

Impotência esta que eu sinto quando presencio-a, sem saber o que fazer com os sonhos que a atormenta, com a lembrança de um esboço de passado inacabado. Palavras não ditas são venenos que deixam qualquer cicuta no chinelo.

Lendo livros que já leu, na esperança do tempo passar, desligando o computador com o pretexto de não ver as horas. Desculpas tolas, na verdade é pra não vê-lo lá sem dá uma palavra com ela. Isso dói mais que a ausência...

E aqui estou sem ter o que dizer quando ela disse: “Quem sabe o que ter e perder alguém sente a dor que eu senti” ¹. Eu ainda não perdi, não posso aconselhar, mas sinto sua dor, pobre jovem que deixou as chances passar. Pobre jovem que é tão cego e que não enxerga a ternura que o espera in off e ninguém sabe por quanto tempo vai continuar por lá.

Talvez as coisas continuem não dando certo, talvez dêem sim certo, talvez apareça um outro alguém como sempre acontece, nesse caso, só não desejo a ela um futuro semelhante ao da mulher que luta com o passado zumbi que bate à sua porta, chamando-a a jogar tudo pra cima.
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¹Quem sabe - Los Hermanos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Da maré.



Não sei de onde vem a calmaria ou a melancolia. Mas a calmaria pra mim é estrangeira. Por que não há produção na inércia sentimental ou na alegria? Ponho-me então a escrever linhas tortas e sem sentido, a nível de comparação com o que dantes era cotidiano. “Sou um móbile solto no furação, qualquer calmaria me dá solidão.”¹

Penso e esqueço o que pensei, sorrio e não sei o motivo. Faço coisas que outrora não imaginei que faria. Esse sentimento é alheio, como havia dito. Por isso fico esperando o que está por vir. Convivo com ele como quem hospeda um estranho com casa. Sempre com o pé atrás, sempre observando cada pista ou sinal de mudança de comportamento. "Porém, avisa que é de se entregar o viver."²

Mas, enquanto isso deixo a brisa bater, deixo a atmosfera densa e estranhamente leve me tocar, deixo os afazeres para lá. Vivo com esse sorriso bobo, sempre observando o sentido escapar. Onde está a essência? Só consigo tocar o vácuo do que passou, o intocável, invisível, o vazio que restou. Como alguém que contempla a noite sem ter passado pelo espetáculo do pôr do sol. Mas mesmo assim, admira conformado a beleza das estrelas.

É, pode ser que a maré não vire. Pode ser do vento vir contra o cais. E se já não sinto teus sinais. Pode ser da vida acostumar. ³
Cansada de falar do que sempre falo, de dá murros em pontas de faca e talvez com espírito de conformismo. Pois é, deixa assim como está tão sereno. ²
Por que só a música pode traduzir. ;)
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¹ Paulinho moska - Um mobile no furação
² Los Hermanos - Pois é
³ Los hermanos - Os barcos