domingo, 18 de julho de 2010

Túneis do tempo, desventuras, jabuticabeiras. Parte II


Epístola 2: Choques da razão.

Hoje não tenho mais os quitutes da tia Nastácia, e meu estômago ronca, minha boca saliva mas só os quitutes dela podem saciar minha fome e só de lembrar disso meu coração dá mais um aperto e meus olhos se enchem de uma substancia liquida que veio insinuando aparecer em meus olhos. Balanço a cabeça e mando essa sensação estranha ir embora. Mas a verdade ameaça assombrar minha doce desventura, algo no meu peito tenta me alertar que algo que eu preferia não ouvir, mas voz dura me diz: Por mais que você queira, você não é mais a Narizinho. Duras palavras. Mas tento ponderá-las, pelo menos não a de antes. Pensando nisso tenho um choque de realidade e nada melhor do que o cotidiano pra me ajudar no meu exercício preferido: Encontrar respostas. Vejo que hoje me oferecem livros de vampiros que brilham na luz do dia, enquanto eu peço um livro de filosofia. Nada contra vampiros purpurinados, como diria meu professor, em outras ocasiões: "É horrível, mas eu respeito" Sempre ri ao ouvir essa frase... Sei que já estou desrespeitando, mas dane-se esse espaço é meu! Tenho direito de expressar nessas linhas todo meu desapontamento, se é que alguém tem o direito de estar chateada com isso tudo, esse alguém sou eu. - Como um esforço sobre-humano, desvio dessa questão e tento voltar a minha desventura e continuar do ponto que parei: O lindo sítio do pica pau amarelo, sempre tento pensar em coisas boas como se isso fosse um amuleto para afastar as coisas ruins. Mas os choques de realidade vem de todos os cantos, lembro-me nitidamente da ocasião que minha mãe quis vender minha coleção de Monteiro Lobato na mesma sebo que me ofereceu o livro de "filosofia vampiristica", quase tive uma parada cardíaca que nem os aparelhos mais modernos teriam capacidade de me reanimar. Me controlei, tentei manter o foco, tudo em vão: Meus olhos que sempre foram pequenos se esbugalharam a um tamanho não normal e eu senti um calafrio percorrer todo meu corpo, minha cor desbotou, a voz custou a sair: NÃO! NÃO! Jamais! Meus olhos se encheram do mesmo maldito líquido salgado que insiste cair dos meus olhos mais uma vez, só de lembrar da cena, meu coração de desfaz em pedaços. O peso das lembranças é algo realmente cruel.Mas deixemos isso de lado, agora é hora de um grande conflito ser travado. Meu lado auto-avaliativo diz que o egoísmo me atacou vez: Não quero que minha magia, meu mundo, seja distribuída por aí, não se dá perolas a porcos! (shit, fui pra um assunto indelicado novamente, sinto que estou começando a revelar minha personalidade ácida nessas linhas, mas dane-se mais uma vez!) O fato é que, assim que cheguei em casa quis saber o paradeiro da minha linda coleção de capa verde, que na verdade é a grama onde passeiam tranquilos e intactos os personagens da obra. É como se eu pudesse senti-lo em minhas mãos, como se a Narizinho gritasse por socorro, dentro do livro e achasse apoio na Narizinho que há dentro de mim, em algum lugar. Foi como se eu pudesse voltar no tempo, estar debaixo do antigo pé de carambola (imaginando-o como um pé de jabuticaba. -Como é um pé de jabuticaba? Eu não sei até hoje, mas naquele tempo sabia. Mais até do que se eu tivesse a oportunidade de ver um real hoje, o pé de jabuticaba que jaz dentro de mim, é mais belo de que todas as reais jabuticabeiras. Talvez eu não me depare mais com pés de jabuticabas tão belos quanto aqueles que minha imaginação fértil de menina de 9 anos criava.

imagem por: Murilo Porto; Em: Flickr

— Continua, aguardem.

4 comentários:

Dimi disse...

É dificil se desfazer do que faz parte de nós, mas eles vivem em voce, em seu pensamento sempre, isso é o bastante e nao se perde nunca.

Caroline disse...

Adorei, principalmente essa relação com algo que pode ser nostálgico, que no caso é o Sitio do Pica Pau Amarelo, que é uma historia que marca a infancia. Vai ter a parte 3? :O

Núbia disse...

Sim sim, meu mergulho nostalgico vai até a parte 4! =D
Aguardem, surpresas virão. huauhauha

Saulo Barreto disse...

mais uma vez eu volto a elogiar seus textos Núbia, seu mergulho no sítio do pica-pau amarelo é um encanto...faz qualquer um querer se aventurar contigo =D